terça-feira, 22 de março de 2011

O País dos Invisíveis

Lá estava eu, sentado em um banco no centro da cidade, vislumbrando as pessoas que ali passavam. Aquilo sempre foi um passatempo e tanto para mim. Toda a paisagem daquele ambiente urbano e abarrotado de gente era realmente interessante, pois de certa forma me desligava do mundo por alguns instantes. Era possível que eu ficasse horas e mais horas olhando tudo sem me entediar...
Foi nesse dia, em meio a todo esse cenário, que eu havia notado algo diferente. Era um homem. Não sei ao certo se estava sempre ali ou se, coincidentemente, se encontrava no mesmo local que eu naquela mesma hora. O sujeito estava em trapos e era extremamente sujo. Os pés descalços e machucados não mostravam uma cena agradável para quem passasse. Possuía os cabelos e a barba demasiadamente compridos, o que lhe dava o aspecto de um ser primitivo. Em meio a todas as madames bem arrumadas e as senhoritas perfumadas, o pobre indivíduo mostrava-se alheio a tudo o que se passava por ali. Parecia invisível para todos, já que a sua presença era notada apenas por mim.
Ao ir pra casa naquele dia, após o meu passeio, o tal homem não saia da minha mente. Como uma pessoa tão debilitada, que levava uma vida de tal forma degradante poderia viver daquela maneira? A verdade é que eu já tinha visto homens como aquele, claro que sim. Tais indivíduos já faziam parte do cenário da cidade, sendo que tal realidade já se havia se tornado comum. A grande questão era o porquê daquela sensação inesperada de incomodo provocada por aquela visão, mesmo depois de ter me deparado com aquilo tantas vezes.
O tempo foi passando e aquela sensação foi piorando cada vez mais. Eu percebia que quanto mais ajuda estes homens necessitavam, menos eles eram notados. Eu não os via no jornal noturno, nem na edição matutina do impresso da banca de jornal. Não os via nas revistas e nem nos outdoors. Tais indivíduos são meros espectros da sociedade, que vagam sozinhos, às cegas e sem ser vistos por ninguém. São eternos andarilhos sem rumo, pessoas que serão marginalizadas por todo o sempre. Foi então que eu percebi que o meu país é formado por estes homens: uma nação de invisíveis, que depende das esmolas dos afortunados para manter viva a esperança de viver. Sim. Homens como estes existem aos montes em meu país, em busca de um objetivo na vida dura que levam, de algo maior que tudo isso.
Talvez os outros homens que aqui habitam como os ricos, poderosos e influentes, não queiram enxergar o que acontece de verdade. A ganância que lhes é própria os cega e faz com que pensem apenas em si próprios. São estes, os seres que aumentaram, aumentam e aumentarão cada vez mais seu poder, à custa da exploração e da invisibilidade dos outros homens.
Esta inexpressiva crônica é apenas um pequeno retrato, dinâmico e não-detalhado, da minha “tão amada terra”, que foi, é, e sempre será um país de invisíveis!!!

3 comentários:

  1. E Jorge Amado retratou isso muito bem em seu livro "Capitães da areia", onde ele desenha, de forma verídica e doída a realidade dessas "pessoas invisíveis". Filhos de uma pátria que, infelizmente, não adota a todos.

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  2. Acreditar que sempre será é dar mais força para esse problema , por isso eu discordo e prefiro acreditar que a nossa tão amada terra um dia não será mais um país de invisíveis.
    Pensemos então em maneiras de mudar essa realidade !!!

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  3. De fato Camila, idealizar uma mudança é necessário. Precisamos acreditar que o nosso país pode sim superar suas próprias barreiras, entretanto, é preciso primeiro que haja a conscientização do coletivo, frente a democracia já estabelecida e as melhores formas de lidar com ela em prol de todos.

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palpitada